quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Coluna da Thainy Garcia


      Nosso blog agora tem uma colunista, é a Thaiany Garcia orientadora educacional da Escola José do Patrocínio ,  que esta implantado a justiça restaurativa.  No próximo post eu apresento melhor a Thaiany, aqui está a coluna dela.


Primeiramente gostaria de agradecer o convite para participar como colaboradora deste blog já que considero o assunto de total relevância e de fundamental importância no cenário da Justiça Brasileira.

Venho colaborar com minha visão das práticas restaurativas no cenário escolar e de como podemos no micro ambiente da instituição transpor este comportamento para o macro da sociedade.

Trabalho como Orientadora Educacional em uma Escola Estadual no bairro Restinga em Porto Alegre, a realidade da comunidade ali assistida é bem difícil, a indisciplina, drogadição, tráfico e criminalidade é muito presente no cotidiano dos alunos atendidos.

No meu trabalho, sempre procurei ter um olhar diferenciado às atitudes dos meus alunos, mesmo que encaminhados por situações extremas de indisciplina, o primeiro contato sempre foi procurar saber o que estava sentindo pra chegar a tal atitude. Tudo começa realmente na escuta empática e naturalmente a seguir praticamos a comunicação não violenta, duas posturas diretamente ligadas as práticas da Justiça Restaurativa.

Ouvir atentamente o indivíduo não significa que de fato o compreendemos. Quando o educando fala e é significativamente bem escutado, ele escuta a si mesmo. Isto faz com que ele refletindo na sua própria fala reconheça ali os fatos a serem ponderados a seguir para o alcance da auto responsabilização.

Os jovens atualmente não estão acostumados a ter nenhum tipo de escuta, nem mesmo o mero ato de ouvir, quando chegam as delegacias, ao conselho Tutelar, e até mesmo ao SOE das escolas, não lhes é oportunizado que falem das suas necessidades, normalmente relatam o que aconteceu na sua versão cheia de desculpas e mentiras tentando abster-se de imediato da culpa, mesmo que oriundos de flagrantes.

A simples postura de ao confrontar-se com o aluno ou o menor infrator, questionar-lhe como se sente e como estava no momento do ato, produz um total desamamento, isto sempre os surpreende a simples pergunta : “O que você sentia quando fez isso?” ou “Como você se sente agora?” produz um pensamento auto reflexivo instantâneo, que é o primeiro passo para que ocorra a auto responsabilização.

No trabalho de Orientação a empatia é imprescindível já que ao chegarmos para um atendimento é necessário nos despir de toda formação moral , conceitos de família , valores, e sem dúvida nenhum preconceito. É preciso sentir o que sentem, simular o que vivem para que compreendamos o contexto em que se insere aquele indivíduo, do contrário o trabalho não vai restaurar de forma alguma aquela vida ali entregue a nós para que encontre uma nova opção para seguir o caminho naquele momento desviado, mas precisando organizar uma nova estrada.

O curso de Justiça Restaurativa aprimorou meu trabalho e tornou a prática  no Serviço de Orientação uma prevenção aos atos infracionais dos menores atendidos na instituição. No momento em que se trata dos conflitos com a postura restaurativa já no ambiente inicial que é a escola, o aluno já tem um acompanhamento diferenciado e obtém espaço para que suas necessidades sejam ouvidas e atendidas, dificultando que reincida no ato ou que se agrave fora dos muros escolares. Os casos que recebem atendimento e são acompanhados pela prática do círculo restaurativo e ainda assim reincidem em novos conflitos, são encaminhados ao Núcleo da Justiça Restaurativa onde recebem nova oportunidade agora junto ao Ministério Público de responderem pelo seus atos e restaurarem seu comportamento.

Espero sinceramente que toda rede de atendimento trabalhando com esta mesma postura obtenha resultados sociais nunca antes vistos. É para isto que estamos trabalhando e nos dedicando integralmente.


                                                                       Thaiany Garcia

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